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A ZINE COMO FERRAMENTA PARA UMA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E TRANSFORMADORA


O que é a fanzine ou zine?


São publicações independentes, geralmente feitas de trabalho manual ou que também usam as ferramentas digitais - como colagem, edições de textos e imagens. Seus conteúdos são variáveis, levando em consideração que diversos artistas de diversas linguagens e categorias utilizam do fanzine como forma de disseminar seus trabalhos e expor suas ideias. A zine se tornou uma ótima ferramenta de comunicação, pois é rápida e barata de fazer, sua forma de produção/reprodução geralmente feita em casa utilizando papel, canetas, cola, revistas, jornais, tesoura, às vezes computador e impressora, se tornou um ótimo aliado de poetas/escritores, fotógrafxs, desenhistas, quadrinistas, entre outrxs. Hoje encontramos uma variedade de tipos e formatos.


imagens de arquivo pessoal



O termo foi dito pela primeira vez em 1940, por Russ Chauvenet um fã de ficção científica, que publicava pequenos livretos, que os chamava de “Fanscient”, Russ também reunia os leitores deste gênero para conversas e eventos. Os Fanzines se popularizaram nos anos de 1960-1970 pelo movimento anarco-punk da Inglaterra principalmente entre os jovens e adultos que faziam parte de bandas underground ou que eram fãs dessas bandas. Essa galera utilizava folhetos e panfletos para disseminar suas ideias e/ou convocar a juventude para alguma ação ou show. Fazia também destes cartazes um meio de comunicação entre a juventude que não tinha acesso às grandes revistas de música, cultura e/ou política da época.

Então, começaram a escrever sobre as bandas locais, fazendo resenhas de discos, letras de músicas, críticas ou a trajetória de bandas, num compilado de páginas de papel, com letras feitas à mão, desenhos e colagens e depois juntavam tudo isso e tiravam várias xerox e distribuíam nos shows ou vendiam por baixos preços.




Imagens retiradas do Google imagens





A palavra FANZINE, como conhecemos hoje vem da junção de duas palavras do inglês Fanatic (fanático - fã) e Magazine (Revista), e que ganhou outras versões ao longo dos anos. A gente encontra ela na versão reduzida de ZINE - que pra mim consegue abarcar diversas linguagens e formas, como cordel, poesia, colagem, texto crítico ou teórico, fotografia (foto-zine), pintura, desenho, quadrinho, enfim, o que couber ou sair da cabeça do artista.

Tem também o SEMIPROZINE, fanzine de qualidade profissional, geralmente feito em grandes escalas, com uso de ferramentas de design gráfico digital, impresso com um papel de melhor qualidade. Tem também o ADZINE, criado com a junção das palavras advertising (publicidade) e zine, um fanzine criado para anunciar outros fanzines. E o GRAPHZINE, dedicado a artes gráficas e ilustrações. Uma biblioteca de fanzines é chamada de fanzinoteca ou zineteca. Uma/um editora/editor de fanzines pode ser chamada/o de fanzineira/o ou faneditora/o. Com a facilidade de expor e compartilhar que a internet nos proporciona fica cada vez mais fácil ler e publicar os zines na rede. Muitos grupos e/ou artistas individuais publicam suas produções online, em pdf, imagem, vídeos, gif, etc.



Experiências de formação com as zines


Comecei a ministrar oficinas de zines logo após uma formação que participei com a Fernanda Meireles e a Emi Teixeira, na cidade do Quixeramobim dentro da programação da primeira versão do Qxas - Festival de fotografia do Sertão (https://www.facebook.com/qxasfestival) em 2018. Aprendi diversas técnicas para a produção e também para a disseminação. Passo a ser multiplicadora também. Eu já tinha feito alguns zines individuais em casa com colagem e usando textos autorais, mas nunca tinha ministrado oficinas ou usado nos espaços da sala de aula. Pensei, então, em propor oficinas de zines para escolas e espaços culturais. A primeira oficina que ministrei foi para o Encontro de Leitores de Quixadá (https://www.facebook.com/ELSCQuixada), evento literário que acontece anualmente na cidade de Quixadá, com diversas ações voltadas para o publico leitor, como palestras, workshop, oficinas, divulgação de livros, etc. A proposta de oficina foi direcionada para estudantes do ensino fundamental II e médio, a produção de zines ficou bem livre, desde que aproximasse com a temática geral do evento que era a leitura. Foi uma experiencia incrível, usamos revistas velhas para fazer colagens e a turma que sabia desenhar e que escrevia deixou a imaginação rolar solta. Essa foi a primeira de muitas oficinas.




Fotos: Elen Andrade - Arquivo pessoal

Oficina de Foto-zines para crianças, realizada na Casa de Saberes Cego Aderaldo. Nesta oficina as/os integrantes fizeram retratos onde cada uma/um demostrava um sentimento/sensação. Após a produção das fotografias imprimimos e montamos as zines. Cada participante levou sua zine montada pra casa :)


No começo as oficinas vieram de um desejo de disseminar a técnica, os modos de fazer as zines. Depois da quarta ou quinta vieram como propostas temáticas e pontuais. Começo a entender a arte, sendo ela não dissociada de uma subjetividade e pensamentos político e crítico. A arte de fazer zines tal como a arte de educar e dar aulas é, ou pelo menos deveria ser ou deveria vir como um posicionamento. Talvez não somente no sentido de "tomar partido" ou de "defender uma ideia", mas no sentindo amplo, trazendo lugares de fala, identidades, o combate ao racismo, a luta pela igualdade de gênero, as luta de classes, reflexões a cerca dos problemas sociais enfrentados pela população marginalizada, história e territorialidade dos povos e dos espaços de formação, sejam na sala de aula ou em eventos organizados por movimentos sociais ou ferramentas culturais institucionais.



Fotos: Mayara Alburquerque

Oficina de zine realizada na escola Liceu de Quixeramobim, 2018, a oficina fez parte da programação do projeto Severinas Mulheres do Sertão -https://www.instagram.com/severinasmulheresdosertao/ (falarei sobre esse projeto num outro post). A oficina teve como eixo central os pensamentos feministas, empoderamento dos corpos e a produção independente de mulheres, sejam fotógrafas ou poetisas.



Resultado da oficina no Liceu de Quixeramobim. As participantes escolheram a capa e criaram o conceito "Femizine", nome que mais tarde serviu de inspiração para a criação de um perfil no instagram para divulgar as zines e as oficinas feitas por mim e pela Aline Nobre (Dá uma olhada se quiser https://www.instagram.com/femi.zine/).



Fotos: João Marcos e Mayara Alburquere.

Oficina realizada na III Jornada de Gênero (https://www.facebook.com/jornadadegenero). Esta oficina foi ministrada por mim (Elen Andrade) em parceria uma das minhas artistas preferidas da região, Aline Nobre, que é engenheira ambiental, zineira, poetisa, cordelista, faz colagens, toca vários instrumentos e dá aula de matemática.

A oficina tinha como fio condutor a escrita de mulheres, partimos de algumas poesias selecionadas por mim e por Aline, para podermos criar. Pensamos as vivências de várias mulheres, principalmente a (des)construção das identidades femininas sertanejas.




Os zines como ferramentas educacionais.


O processo da feitura do zine, bem como do de ministrar oficinas e aulas para a produção, parte muitas vezes de um processo criativo e intuitivo, geralmente ligado às áreas de linguagens e códigos e/ou dentro de temáticas que envolvam artes, como fotografia, literatura, colagem pintura e desenho, e por aí vai, mas que também pode ser apropriado por outras áreas de conhecimento. É uma ferramenta que pode ser facilmente inserida nos currículos oficiais e nas praticas pedagogias de professoras/professores e de artistas, que não exige muito de quem faz ou de quem ministra e conduz um processo. As zines podem facilitar também a comunicação entre uma disciplina e outra, entre áreas de conhecimentos distintas, quando por exemplo, professores de Biologia sugerem que a turma crie histórias em quadrinhos ou colagens com textos e imagens para falar de alguma espécie de planta ou animal, a zine pode muito bem aparecer como uma conexão nas aulas de literatura e biologia.


Crianças e adolescentes sempre se envolvem com o processo de feitura, pois mesmo aqueles que não sabem/não se interessam ou que ainda não foram estimulados a desenhar ou escrever poesia ou textos teóricos, encontram-se na colagem. Juntar imagens aleatórias com fundos coloridos e frases motivacionais, militantes, clichês ou deboches ou até mesmo criar personagens para explicar algum conteúdo e apresentar um trabalho pedido por algum professor/professora, pode desencadear nos estudantes uma fagulha criativa e/ou ajudá-los a expressar algum sentimento/sensação que não está sabendo como lidar no momento.

Fazer zine também pode ajudar a turma a se relacionar melhor com suas identidades e aceitar seus corpos, cores, texturas, cabelo, sexualidade, etc.

Desta forma a zine atua como uma ferramenta democrática nas metodologias da educação, solucionando problemas de falta de comunicação e (des)entendimentos entre gerações.



Uma das Zines produzida por estudantes do Instituto Federal do Ceará (IFCE) de Baturité, numa oficina sobre identidade e ancestralidade, ministrada no III Sarau AfricaNós no IFCE de Quixadá.




Fotos Elen Andrade. Arquivo pessoal.


Registro da oficina sobre Ancestralidade no IFCE de Quixadá, em abril de 2019. A oficina teve como tema central "Memórias e ancestralidade para a produção de Zines" e teve como objetivo tencionar nos participantes a criação de imagens-textos sobre suas próprias histórias que por vezes se confundem com as histórias de seus ancestrais. Ao evocar o conceito de Escrevivência da escritora, poeta, mineira e negra Conceição Evaristo, procuramos tecer narrativas sobre aquilo que mexe com todos nossos sentidos e que nos emociona. Ao buscar em nossas memórias a história de nossos avós, de nossos pais e nossa própria história, e ao organizá-las em formato de zine com o intuito de repassar para os próximos um pedaço de nossa escrita-vivência-resistência.




Zine feita pela Franciscana Erê (https://www.instagram.com/franciscanasouzas/)





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