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Quando começamos a pensar sobre esse projeto questionávamos nossa identidade étnico-racial, estávamos nos construindo enquanto pessoas negras e buscávamos perceber que esta identidade que é (re)construída a partir de relações entre-tempos, vinha de um passado no qual nem sempre nos pertencera. Um passado histórico que fora apagado e silenciado, nos livros, nas canções, nos documentos-monumentos da cidade. Com algumas questões martelando acerca da história do negro no Ceará falávamos sobre “buscar na memória”.
Mas afinal o que é memória? Segundo Jacques Le Goff, seria a propriedade de guardar/conservar certas informações, passadas ou interpretadas como passadas. Informações físico-psíquicas. Guardada nos corpos através dos sentidos. A memória age sobre o que foi vivido e recupera aquilo que outrora fora submerso.
Partimos de memórias de indivíduos nunca isolados a fim de construirmos uma memória coletiva do que seria também uma história local. Este projeto propõe ser a ponta de lança de uma pesquisa histórica – iconográfica - a fim de registrar e dar materialidade à memória de sujeitos - pretas e pretos - do Sertão Central, mais especificamente no coração dele, na cidade de Quixeramobim.
Partimos de um desejo de ouvir. Andamos pelas ruas da cidade à procura destes e de outros para saber o que elas e eles têm a nos contar ou mostrar. Procuramos fotografias, cartas, histórias. Enquanto historiadora e pesquisadora em formação, vejo potencia nos arquivos. Eles são elementos que enriquecem a narrativa, acabam sendo dispositivos que acionam memórias, fazendo com que o entrevistado rememore as cenas e descreva melhor suas ações e a própria ação do tempo.
Esperamos ser surpreendidos. A investigação muitas vezes é como brincar de cabra-cega. Estamos a seguir pistas. O destino nos apresentará surpresas. Temos algumas teses sobre a cidade e sobre os negros que aqui viveram, agora em outro tempo buscamos ver a cidade de Quixeramobim a partir destas identidades negras, a fim de conhecer formas atuais de resistências, exploradas através de relatos orais e demais tradições.
Nós, enquanto seres históricos, buscamos contar para o outro, assim como para nós mesmos (mulheres negras e homens negros) a nossa história, porém não como sujeitos vencidos, e sim como seres de ação, produtores e consumidores de cultura, capazes de (des)construir realidades, espaços e tradições. Procuraremos garantir esse direito de memória através de registros orais e visuais, de tal forma que os próprios sujeitos abordados sejam os responsáveis pela (re)criação de suas experiências, procurando também afirmar a diversidade étnica, etária e de gênero.
Realizamos - e continuaremos realizando - uma serie de entrevistas com pessoas negras para construir um acervo-memorial das histórias. Temos como objetivo criar uma ferramenta didática para professores e alunos da região e demais interessados nesta proposta. Aqui neste site-acervo reunimos nossas pesquisas, conversas e arquivos de memória. Esperamos que as próximas gerações de Professores e Estudantes, Pesquisadores, Historiadores, Artistas, Curiosos e demais interessados nas temáticas possam encontrar por aqui a história de seu passado ou presente negro.
Bem vindas e bem vindos ao Projeto Identidade e Resistente - Pesquisa e memória do Povo Negro de Quixeramobim/CE.
Texto por Elen Andrade
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Realização

