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NARRATIVAS SOBRE O COTIDIANO E A ESTRADA NO FILME "TRAVESSIAS"




Estrada Quixeramobim-Limoeiro do norte. Foto: Elen Andrade. Arquivo pessoal.


Ensaio Documental

Direção: Elen Andrade

Tempo de duração: 15mn

Ano de gravação: 2015

Ano de finalização: 2019

Classificação indicativa: Livre



Este documentário segue a estrada, o que ela trás de liberdade, mobilidade, novas possibilidades de encontros, caminhos e rotas, um elemento que junta pessoas em meio às travessias. Talvez classificá-lo como Road Movie o colocasse numa caixa e é exatamente disso que fugimos, coisa que facilmente esgotaria a possibilidade de entendê-lo para além disto, talvez este filme seja também como um ensaio, gosto de pensá-lo como ensaio documental, no entanto esta história se passa na estrada.

Seguindo pessoas que fazem um mesmo trabalho, comprar mercadorias em um lugar e levá-las a outro, um trabalho que se repete, semana após semana, que cria rotas, traça caminhos, um eterno retorno, mas o que se repete não tem só a forma do mesmo, e é isso que nos interessa nesse retorno, a variação entre a repetição e a diferença, um mesmo caminho, mas um caminho sempre diferente, pois repetir sempre é uma forma de dar a ver o que é novo, o que surge como singular em cada viagem, cada pequeno acontecimento, pessoas que aparecem no caminho, a percepção do que muda ano a ano nos caminhos, na paisagem, nas relações, tudo isso que faz com que nossos personagens digam sempre que a viagem nunca parece a mesma.

Nossos pontos de interseção para fazer cruzar as trajetórias de nossos personagens é o trabalho, a rotina e a estrada.



Estrada Quixeramobim-Limoeiro do norte. Foto: Elen Andrade. Arquivo pessoal.


Percursos que se repetem. Partidas, chegadas, andanças entre Quixeramobim e Limoeiro do Norte, a vida narrada em travessias, a solidão, a fuga de homens sertanejos que cruzam estradas, levando e trazendo a certeza de mais um dia vivido. Procuramos histórias e imagens que possam sintetizar uma ideia de sertão e travessias, de homens e vidas, de delicadezas em contraposto a dureza da vida. Travessias é um ensaio documental sobre a rotina, sobre o ordinário que bem poderia se encantar e encontrar um tempo de delicadeza, sobre o novo que se mostra na próxima curva.


Making of do filme Travessias. Fotos: Elen Andrade, Maria Oliveira e Rômulo de Paula. Arquivo pessoal.



Com a equipe de gravação formada em sua maioria por mulheres, esse filme mostra sua potência ao trazer as narrativas sertanejas sob a lente e perspectiva destas mulheres, seja na captação de imagem, som ou na produção de campo. Tem na direção de Fotografia o trabalho de Amanda Queiroz, que é Artista visual, Fotografa, Professora de Inglês, é formada em Audiovisual pelo curso Patrimônio na Tela (2015), e que também assumiu a direção de fotografia no filme A bola, o Trem e o Rádio, dirigido por Elistênio Alves (disponível em https://www.youtube.com/watch?v=wzxGWs7fsH4) Sua sensibilidade e estética no Travessias nos possibilita acompanhar a viagem de perto, recriando cenários presente nas memórias de quem habita o sertão Central e a região do Limoeiro do Norte. No céu, o nascer do sol e a linha do horizonte que parece nunca chegar são cenas recorrentes no filme, para quem assiste e para quem trabalha na estrada. Amanda acompanha de perto o trabalho dos transportadores, levando e trazendo suas mercadorias, saindo carro, vendendo, comprando, conversando e seguindo a estrada. Com rapidez e ao mesmo tempo sutileza.

Criamos no filme diversos momentos em que o azul ou o amarelo assumem sua presença, produzindo assim durante a montagem blocos de sinestesias, onde a imagem e som nos transporta da cena ou outro lugar. Fazendo desta estrategia a passagem de tempo e da troca entre um personagem e outro.

Outro trabalho importante foi a construção sonora do filme, tão importante quanto difícil. Os ruídos, o vento, as conversas, o barulho do trabalho, a repetição, o rádio ligado a FM local, a voz off que assume seu lugar enquanto personagem e trazendo reflexões filosoficas sobre o ir-vir e sobre o tempo-filme.


À moda de Agnes Varda, os transportadores e eu.



Eu filmando as carnaúbas na estrada. Limoeiro do Norte. Foto: Maria Oliveira. Arquivo pessoal

Uma cena de filme não me saia da memória enquanto escrevia o projeto deste filme, em Os Catadores e Eu, Agnes Varda, parte com sua equipe levando consigo uma câmera mais portátil atrás de pequenos catadores e/ou rebuscadores nos arredores de Paris, neste filme ela se define como uma rebuscadora de imagens, e não vejo definição melhor para o que tenho me tornado no decorrer dos processos deste filme. Uma coletora de historias e vivências. Alguém que procura pelo extraordinário no ordinário, pelos pequenos detalhes, pelos gestos, pela fala. Parece que fazer um filme comporta sempre dois gestos, um que vai em direção ao outro e outro que volta sobre nós, como se em cada momento que filmo as pessoas algo voltasse sobre mim, me transformando, me implicando naquilo, movendo algo em mim, em como percebo e sinto. Um dos desafios desse filme era trazer essas pequenas percepções, esses pequenos deslocamentos entrarem no filme, achar um lugar para essa “primeira pessoa”.

Como dispositivo para efetuar isso, pensamos em trabalhar em duas linhas de filmagem, duas estratégias de câmera e mesmo duas câmeras. O equipamento principal ficou com a equipe de filmagem, diretora de fotografia e a técnica de som, mas um segundo ficou comigo, com a diretora, essa segunda câmera, menor, mais portátil, tentará dar conta dessa outra experiência, a ideia foi usá-la como um diário de bordo, um caderno de notas, um “marcador” dessas sutilezas.






Este filme foi aprovado pelo XI Edital Ceará de Cinema e Vídeo da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Sendo finalizado durante o laboratório de Montagem em perspectiva, coordenado por Kiko Alves, dentro do projeto Doc. Sertão, apoiado pelo XIII Edital Ceará de Cinema e Vídeo, entre agosto a outubro de 2019.

"Travessias" foi selecionado para mostra competitiva da VII Mostra de Cinema de Iguatu em 2019, onde teve sua estreia no festival, fazendo parte da programação ao lado de filmes como Aos de ontem, aos de sempre (Elvis Pinheiro, Jaildo Oliveira, Laryssa Raphaella, Lívia Afra, Raquel Morais e Ravi Carvalho) , Deusa Olímpica (Emília Schramm, Jéssika Barbosa, Pedro Luís Viana e Rafael Brasileiro) e Oceano (Amanda Pontes e Micheline Helena).

Esperamos vê-lo ainda circular por outros festivais não só no estado no Ceará mas mundo a fora. Como sendo parte da produção do Coletivo de Audiovisual ALGUEIRO (https://www.instagram.com/casaalgueiro/) poderá também entrar nos circuitos de cineclub realizado pelo próprio coletivo ou em parceiras com outros grupos e/ou eventos.


Cartaz produzido por Lucas Azevedo, para a VII Mostra de Cinema de Iguatu.



Equipe

Direção: Elen Andrade

Montagem e Edição: Elen Andrade e Samuel Maciel

Direção de Fotografia: Amada Queiroz

Captação de Som: Mayara Albuquerque

Produção de campo: Maria Oliveira

Assistente de Direção: Rômulo de Paula

Produção Executiva: Weyens Matos

Elenco: José Claudio e Hermilton.




"Travessias" será exibido no dia 18/06/2020 no cineclube Cinema das Dores (https://www.instagram.com/cinemadasdores/) , que agora está em formato totalmente virtual, toda quinta-feira, às 20h, através do link:twitch.tv/cinemadasdores.


Cartaz produzido para a exibição no Cinema das Dores. Por Elen Andrade.

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